sábado, 3 de outubro de 2009

Tempo dos Ciganos (1988)





Hoje em dia cigano tá na moda. Taí o Gogol Bordello que não me deixa mentir. Mas nem sempre a vida foi boa e pacífica para essa galera. Na grande maioria das vezes, e até hoje, os ciganos são chutados pra lá e pra cá, tem entrada recusada em vários países, vivem em situação de miséria e já sofreram um quase extermínio na mão do Adolfinho.
Perhan vive com a avó, a irmã doente e o tio beberrão e apostador numa favela da Iugoslávia. Ele poderia ser mais um cigano normal, conenado à vida de penúria e miserê se não fosse uma coisa que o fizesse especial - Perhan tem poderes psíquicos. São esses poderes que atraem o "rei do dinheiro" , Ahmed, que convence Perhan á entrar para a vida de trambiques em Milão.
Todos os filmes do Emir Kusturica, o cara que fez esse filme, se assemelham, mas isso não é necessariamente ruim. levando em conta que o cara fez "Underground", um dos filmes mais fodásticos dos últimos anos, na verdade até que isso pode ser bom.
Pra começo de converso os filmes dele são bem humorados, e se utilizam de um humor entre o bizarro e o circense. Por exemplo,quando Ahmed chega na cidade, a cena é a mais absurda possível: Ele e sua comitiva vem numa carro caindo aos pedaços, de terninho branco (estilo malandro da Lapa), com uma criança batucando num tamborzinho encima do carro e cantando no tom mais monótono possível: "Oh Ahmed, que carro lindo você tem, você é o rei do dinheiro..." enquanto a favelada cigana se junta para esmolar alguns trocados.
Depois, todas elas ligam com o conflito social e étnico na velha Iugoslávia. Se em Underground o país é cortado ao meio pelas guerras entre antes companheiros étnicos - e isso gera um dos momentos mais grandiosos do cinema moderno, em que o filho morto do personagem principal se vira para a câmera e diz: "Com tristeza, dor e alegria vamos nos lembrar de nosso país, e contaremos histórias para nossas crianças como contos de fadas: "Era, uma vez, um país..."" - aqui, se trata de , obviamente ciganos.
Em seguida, dá pra se ouvir a sempre presente trilha de Goran Bregovic. O cara é um gênio, fato. É uma música muito dançante, divertida, alegre, como são os filmes de Kusturica, mesmo com tanta melancolia presente.
Finalmente, há o sentido de comunidade. Todo mundo tem seu lugar no mundo Kusturiquiano, e a quebra acontece quando alguém deixa o seu lugar ou o tem invadido. Dito isso, se não há quebra, todos vivem numa luta de pequenos conflitos, claro, mas também numa atmosfera festiva, de bebedeira, interação e música. Pode não ser um mundo perfeito, ou fácil, ou sério. Mas é um mundo em que eu não me importaria de viver.

PS: O Kusturica lançou um documentário sobre o Maradona tem pouco tempo. Traiu o movimento.
PPS: Ouçam essa peça do Bartók (não o morcego da Anastácia, o compositor) e digam se cigano não é igual á legal, fuckers: http://www.youtube.com/watch?v=2Vtx8NfvOiA 

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