sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Africa Addieu







         Algumas pessoas podem achar que o máximo de produção musical referente à Africa que existe é ou um bando de neguinho batendo tambor ou o Chico César. Não os culpo. Quase não ouvimos nada do continente mais pobre do mundo - e quando ouvimos, é sempre alguma coisa extremamente tosca como Angelique Kidjo ou aqueles malditos rappers da Nigéria.
          Bem, faço questão de tentar mudar ligeiramente essa visão etnocentrista, racista, americanista e malabarista que temos do Negritude e Jr, digo, continente africano. Veremos também que os próprios africanos sabem falar de seus problemas bem melhor do que alguns astros mimados de mãos dadas cantando "We are the World" conseguem. E é melhor que curtam, se não chamo uma guerrilha pra puxar seu pé à noite.





Fela Kuti - Eu sou bem reticente em chamar alguém de gênio (Mentira, nem sou). Mas para esse cara, a denominação vem à calhar. Fela era da família cultural mais proeminente da Nigéria. Em sua árvore familiar, temos vencedores do Nobel de literatura, intelectuais, políticos admirados...mas faltava um pouco de música nessa história toda. Não sei como ele começou a tocar, então bolei uma história: Fela estava meditando no delta do Níger quando MOTHERFUCKING OBANLÔ XANGÔ DE YORUBÁ desceu dos céus e entregou pra ele um....saxofone. Não seria qualquer saxofone. Seria o saxofone que iniciaria o afrobeat, a melhor coisa à sair da áfrica desde a mumificação. O Kutão logo se tornaria o maior astro musical da Nigéria e quiçá, de toda a África. Dizem que os ultra corruptos ditadores e políticos nigerianos só temiam uma pessoa: Fela Kuti.Parece que nem tanto, por que certa vez a polícia nigeriana invadiu a casa dele, espancou todo mundo lá dentro e estuprou todo mundo (sim, incluindo nosso amigo). Em suas letras, ele fala de opressão, falta de liberdade, corrupção, o espírito africano, frustração colonial...tudo isso embalado por um funk/jazz/batuque com mais feeling que um xamã enlouquecido. Ele viria á morrer de AIDS nos anos 90, mas até lá, o estrago já tinha sido feito, e apesar de continuar pobre, a Nigéria viu surgir vários movimentos de constestação e hoje é o país culturalmente mais vivo da àfrica Subsaariana.
Discos: Zombie/Sorrow Tears and Blood




Femi Kuti: Fela morreu, todo mundo chorou. Parecia que era o fim para os nigerianos. Mais mal os generais começaram a trocar High-Fives entre si...apareceu o filho do Fela, fazendo uma música maneira cheia de groove que nem o pai. Diferentemente do Kuti senior, Femi não faz músicas de 12 minutos (opa, esqueci de falar disso. Pois é galera, os discos do Fela tem umas 3 músicas cada) e sim menores, mais compactas, de 6, 5 minutos. Também não experimenta tanto quanto o progenitor. Seu som lembra o funk americano e mesmo o pop, mas isso não quer dizer que não tenha seu próprio African Rithym. Parece que os governantes também não simpatizaram muito com o jovem padawan e fecharam a boate que ele regia e ás vezes tocava. Não vai ser dessa vez que eu vou visitar Lagos.
Discos: Africa Shrine



Mulatu Astatke: A primeira vez que eu ouvi Mulatu, foi no filme "Flores Partidas" do jim jarmusch. O filme em si é um saco, o pior do jarmusch. Mas fiquei encantado (noffa, arrazou benhê) com a trilha sonora da película. Quando fui pesquisar, dei de cara com esse nome bizarro e descobri que se trata de um jazzista.
Da Etiópia.
Vocês devem estar pensando: "Jazz da Etiópia? Tem como ficar mais indie?" Tem. Pesquisando mais, descobri que lá na década de 70, a Etiópia teve uma vida musical bem viva, coisa dos tempos em que os europeus ricos iam comer umas prostitutas africaninhas baratas e sem AIDS - sabe, eles ficaram com saudade dessas coisas depois que perderam Cuba -  antes de uma junta comunista derrubar o imperador etíope e instituirem a lei marcial do "Essas bacanais acabaram, carajo!". Dessa galera etíope não tem ninguém mais tão interessante: Você pode conferir na série Ethiopiques, que a Buda Music lançou um outro pessoal de nome impronuncíavel.
Ah sim, voltando ao Mulatu, como definir seu som? Pense em jazz. Agora pense num egípcio antigo fazendo jazz. È bizarro, mas essa é a imagem que me vem à cabeça.
Discos: Ethiopiques Volume 4

Tinariwen: A  idéia não poderia ser mais estranha: um bando de Tuaregues dos desertos do Níger - simplesmente um dos países mais paupérrimos do nosso planeta - decidem pegar em guitarras para vingar a morte do pai do chefe do chefe do grupo.


Q


O resultado desse plano de vingança musical saiu incrivelmente bem. Não se enganem: a música não é fácil. Vocês só vão curtir se gostarem de blues árabe lisérgico com cantos tuaregues do deserto que desobedecem qualquer norma da música normal. Eu curto, por que sou um doente mental. Prefiro acreditar que meus 3 leitores são mais lúcidos que eu. Pra você ter uma idéia, as influências desse grupo são cantos típicos árabes E Led Zeppelin. Definitivamente, uma mistura mortal.
Discos: Aman Iman

Buraka Som Sistema: Ok, esse grupo não é propriamente africano. Na verdade, foi iniciado em Portugal. mas tem tudo á ver com a música africana. Pra começar, é música eletrônica baseada no Kuduro (VOCÊ É ENGRAÇADO PRA CARALEO HEIN) , um som meio que hip hop/funk brasileiro de Angola. Depois, boa parte dos participantes do projeto vem de lá. No fim, acaba um tremendo som vivo, bom para as festas (se você quiser assustar todo mundo) e para se debater que nem um maluco. Ou seja, mais ou menos como Kuduro é dançado.
Discos:Black Diamond

Cesária Évora: Vocês devem estar pensando: legal, mas o pessoal da África lusófona não pode fazer sua própria música? Tem que apelar pro seu pai colonial?" Aha, mas aí é que está o pulo do gato! Das ilhas do Cabo verde sai essa mulher, chamada na Zoropa de "A Diva dos pés descalços". Apesar do nome muito gay, Cesaria não tem nada de Cher ou qualquer outra Diva de viado. Pelo contrário, é uma gordinha baixinha de meia idade, que você poderia confundir com sua avó. Mas quando ela abre a boca, cara...que puta voz. As músicas dela lembram música caribenha, tipo Buena Vista Social Club com óbvios toques portugueses. E nem se procupe se você não entender o que ela canta logo de ínicio, já que ela canta em português crioulo. Nenhum racismo aí, é como se chama o português misturado com dialetos africanos. Sério. Te juro.
Disco: Bem, hehe, eu meio que, hehe, olha que engraçado, nunca ouvi um disco dela. Só ouço os vídeos do youtube. Então ouçam e se remediem com a vida
http://www.youtube.com/watch?v=E_7BV-IuyKI

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Ditadura do proletariado