sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Querida, engoli a Finlândia





J.R.R. Tolkien era um cara á quem nos meios acadêmicos nos referimos como "Inteligente pra caralho". Ele era um estudioso respeitado, que havia sido codebreaker na segunda guerra e falava 25 línguas e dialetos, incluindo finlandês, grego, lituano, galês medieval e frênico, que eu acabei de inventar.
Sendo um fucking genius, Tolkien decidiu que iria criar um novo mundo. Não, não um novo mundo simplesmente, mas literalmente um novo universo, com sua história, sua língua, seu mito da criação e etc...
O que Tolkien acabou fazendo, na verdade, foi mais do que isso. Ele publicou sua série mais conhecida, O Senhor dos Anéis, na década de 50, um período de grande turbulência no mundo e inovação em todas as artes. O que falhamos em perceber á todo momento, é como a série foi algo totalmente excêntrico para o período.
O Senhor dos anéis é um retorno ao romantismo medieval. Sua forma de escrita retoma a forma dos épicos de 5 séculos atrás. Ele ressucita os monstros em suas formas originais. Hoje, nesse nosso mundo de Dungeons e Dragons, Warcraft e coisas extra virgens, tomamos por lógico que elfos são magros, altos e arqueiros, anões são baixinhos, vivem embaixo da terra e ferreiros, e orcs são maus e assassinos.
Naquele período em que Tolkien vivia, isso havia sido esquecido. As criaturas mitologicas européias haviam sido emburrecidas e simplificadas, para dar espaço á máquina. A própria Europa queria se afastar de seu passado, e só quem usava a iconografia pagã de tempos antigos eram os nazistas e os fascistas - gente de quem todo mundo queria ficar longe.
J.R.R. não podia dar mais a mínima. Ele era um medievalista declarado, e um estudioso dos mitos ancestrais que o velho continente havia taxado de obsoletos. Quando ele leu o épico finlandês Kallevalla, que tratava de um anel mágico construído por um ferreiro e disputado por humanos e uma criatura maligna (sim, isso está bem bem abstrato, mas é que minha internet tá uma merda, então não tô conseguindo pesquisar) surgiu a inspiração para escrever seu maior clássico.
Dessa maneira, ele e seu contemporâneo C.S. Lewis retornaram ao passado de seus próprios jeitos. Lewis com Nárnia, Tolkien com os anéis.
Assim como Lewis, Tolkien era cristão fervoroso, e na verdade, contribuiu com a conversão do amigo do ateísmo para o cristianismo. Porém, Narnia é um livro voltado para crianças, e por isso tem o Aslan/Jesus como aquele que guia a humanidade para sua redenção. Já no "Senhor", a humanidade até recebe ajuda para lutar contra Satã/Sauron, o pecado original/o um anel e sua própria perversão/Gollum de um Jesus/Gandalf - que morre para proteger-nos como um humano, mas retorna para nos redimir como divino - só que ultimamente cabe a ela ser o instrumento de sua própria salvação e herdar a terra: os orcs e uruk-hai são destruídos, os elfos vão para sua ilha da eternidade, os anões voltam para os subterrâneos.
Todo esse conservadorismo não era bem visto num tempo em que os intelectuais precisavam ser audaciosos e iconoclastas, mas mesmo assim ele conseguiu superar os preconceitos e ser aceito entre todos os círculos, ultimamente.
Não que o livro não tenha seus defeitos: é verborrágico, insiste em idéias repetidas e, como em qualquer épico, ignora as características de cada personagem para dar maior concentração á história. Desse maneira, tempos uma avalanche de personagens principais rasos e personagens secundários dispensáveis.
Contudo, o maior problema da obra não é realmente sua culpa. Graças ao seu grande sucesso, o épico gerou um enorme número de cópias, imitações baratas e livros de gente que queria render apoiado no seu sucesso. Todavia, esse pessoal escrevia em seis meses, Tolkien passou toda sua vida lapidando o conto, pesquisando suas inspirações, criando línguas, povos e histórias plausíveis. Infelizmente, lendo-se acaba-se tendo aquela impressão de clichês, de "já ouvi isso antes", apesar de na realidade, aquilo foi o que foi dito pela primeira vez.
Ultimamente, seus livros são  nostálgicos, feitos por um homem que via a desintegração de um império em que arriscou a vida para defender em duas guerras mundiais.É um olhar melancólico e esperançoso, tanto para o passado como para o futuro. A paixão dele por sua cultura poderia até ser chamada de xenofóbica hoje em dia. Besteira, ele respeitava todas as raças e povos, e se opunha violentamente contra o Apartheid e os governos totalitários da época. Alguém poderia confundir Tolkien com um homem racista, porém a melhor denominação para ele é de um homem orgulhoso


3 comentários:

  1. Ele foi realmente um dos maiores ícones no estudo dos idiomas, além de ter criado uma porrada por conta própria... Grande personalidade.

    Kaiser, tendo você um gosto literário tão fino, gostaria de pedir um novo post, com sugestões de leitura de autores clássicos e atuais. Fazer uma pesquisa com o proletariado, meio top 10 Old & New. Que tal? Bem, fica a dica.

    Um abraço de todo o Povo do Telhado!

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  2. Kaiser, filho de Maiser, bisneto de Gêiser, enteado de Yasser, ficou irado seu post.

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  3. Caralho, arthur, tu tá querendo demais de mim. Tá me superestimando. Preciso de uns 40 anos de vida pra fazer uma lista dessas que realmente signifique alguma coisa

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Ditadura do proletariado